Resposta de um Comissário de Polícia a MV Bill da Cidade de Deus

MV Bill ou Bill MM

Por: Aurílio Nascimento em 
Acabo de ler que o senhor Alex Pereira Barbosa, conhecido por MV Bill, “denunciou” em uma rede social que a polícia havia arrombado três apartamentos no mesmo andar do prédio onde mora, na Cidade de Deus. “São moradores que conheço e sei que saíram para trabalhar”, publicou o senhor Alex. Por se apresentar como rapper, e desta forma possuir espaço na mídia, as palavras do senhor Alex logo ganham o universo virtual, são difundidas, e a ação policial para combater o domínio de traficantes sobre a comunidade fica no segundo plano. A polícia agiu com truculência. Quero dizer ao senhor Alex, o qual usa o nome artístico de MV, ou seja, mensageiro da verdade, que sua verdade está um tanto quanto capenga. Talvez não seja bem uma verdade, pode ser uma interpretação errada, sou benevolente com os detentores de personalidade com algum possível defeito.
Senhor Alex, saí de casa às três da madrugada para uma operação na Cidade de Deus. E não estava sozinho. Centenas de outros policiais fizeram a mesma coisa. Deixaram suas residências muito antes do nascer do sol, com dificuldades, sem a certeza da volta, sem a certeza de receberem os seus salários, sem a certeza de que não vão pagar pelos caos financeiro em que se encontra o nosso Rio de Janeiro, para ir à Cidade de Deus, local de sua residência, combater traficantes sanguinários, que impõem suas vontades a milhares de pobres trabalhadores. Que impõem o terror, que matam por nada, que traficam drogas e destroem vidas.
Na reunião de preparação, fui informado que havia um mandado de busca coletivo, ou seja, podíamos entrar em qualquer residência à procura de armas, drogas ou produtos de crimes. Cada equipe estava acompanhada de um delegado de polícia. Estes repetiram a exaustão os protocolos a se seguir, embora já os conhecêssemos e os seguiíssemos. Respeito a todos os moradores; explicar para os moradores a nossa missão; no caso de revista e busca da residência, se fazer acompanhar de testemunhas. Evitar ao máximo qualquer tipo de conflito ou discussão.
Senhor Alex, visitei hoje mais de três dezenas de apartamentos na Cidade de Deus. E não adentrei a todos, apenas alguns, pois não vi a necessidade. Em todos fui, assim como meus colegas, muito bem recebido pelos moradores, inclusive com o oferecimento de café e água. Em todos os apartamentos que visitei, fomos liberados para uma revista. E, em regra, com uma frase: "Estejam à vontade". Às vezes acompanhada de um “desculpem a bagunça”. Sabe senhor Alex, nosso trabalho e rotina esmagam as emoções. Mas ficamos felizes ao ouvir de moradores que vivem sob o domínio de facínoras um “Que Deus os proteja”, “Sei como é difícil o trabalho de vocês”.
O que fico a me perguntar, senhor Alex, é o motivo pelo qual o senhor nunca denunciou as atrocidades praticadas pelos traficantes que dominam o lugar onde o senhor mora. O que fico a me perguntar, senhor Alex, é o motivo pelo qual o local onde o senhor vive e tanto defende está mais para um lixão. Esgoto a céu aberto, pichações nas paredes em homenagem a marginais mortos, nenhum resquício de atividade cultural saudável, nada de positivo. Será que vão sempre esperar pelo governo? Será que, por vontade própria, não podem se movimentar e fazer algo?
Senhor Alex, talvez seja melhor mudar o seu nome artístico de MV para MM. O primeiro M continua mensageiro, o segundo o senhor escolhe.


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