‘Seu filho foi bastante corajoso’, diz Moro a Cerveró

  
Por Julia Affonso e Ricardo Brandt
22/04/2016, 09h44
Em audiência na Justiça Federal no Paraná, ex-diretor da Petrobrás chora ao falar de Bernardo Cerveró, que gravou o senador Delcídio Amaral (sem partido-MS) tentando barrar a Operação Lava Jato

Nestor Cerveró, ex-diretor da área Internacional da Petrobrás. Foto: André Dusek/ Estadão
Nestor Cerveró, ex-diretor da área Internacional da Petrobrás. Foto: André Dusek/ Estadão
O juiz federal Sérgio Moro, que conduz as ações da Operação Lava Jato, elogiou Bernardo Cerveró, filho do ex-diretor da área Internacional da Petrobrás Nestor Cerveró no fim do depoimento do executivo na segunda-feira, 18. Na parte final da audiência, Nestor Cerveró pediu a palavra e, por cerca de oito minutos, se desculpou com o magistrado por ter mentido em dois depoimentos anteriores e falar da gravação que Bernardo Cerveró fez do senador Delcídio Amaral (sem partido-MS) tentando barrar a Lava Jato, em novembro de 2015.
Nestor Cerveró foi preso em janeiro de 2015, pela Polícia Federal, no Aeroporto do Galeão, no Rio, quando chegava de uma viagem à Inglaterra. A gravação feita por Bernardo Cerveró foi pivô da prisão do senador Delcídio do Amaral (sem partido-MS) no dia 25 de novembro do ano passado.
O ex-líder do Governo foi preso por tentativa de atrapalhar as investigações da Lava Jato. A base da custódia do senador é uma conversa gravada por Bernardo Cerveró, filho do ex-diretor da Petrobrás. Em 4 de novembro, Bernardo Cerveró gravou uma conversa de 1h35 na qual Delcídio Amaral, com a suposta ajuda do então advogado de Nestor Cerveró, Edson Ribeiro, tentava bloquear uma possível delação premiada do ex-diretor. O senador ofereceu R$ 50 mil mensais para comprar o silêncio de Nestor Cerveró. Em 18 de novembro, o ex-diretor da estatal petrolífera fechou sua delação premiada com a Procuradoria-Geral da República – depois, o senador seguiu o mesmo caminho e fechou acordo de colaboração em fevereiro deste ano.
No fim da audiência, após as declarações de Cerveró, Moro disse. “Seu filho foi bastante corajoso, merece esses elogios todos do sr. Mas isso não diz respeito a esse caso específico.”
Momentos antes, enquanto falava do filho, o ex-diretor da Petrobrás ficou com a voz embargada e chorou. “Graças aos esforços dos meus (novos) advogados e, desculpe,… do meu filho, que gravou conversa, teve a frieza de ficar 1h30 conversando, desculpe, e conseguiu gravar a conversa em que o meu advogado que tinha se aliado ao senador Delcídio planejavam um esquema de fuga, um esquema que era totalmente absurdo, porque eu tinha voltado da Inglaterra um ano antes. Meu filho conseguiu essa gravação e com essa gravação, então, foi feito o acordo com o Ministério Público e eu prestei as informações que eu teria prestado 6, 7 meses antes. Eu perdi 6 ou 7 meses de prisão fechada e o pior que isso. Meu filho, minha nora e minha neta saíram do país por questões de segurança, por recomendação da Polícia Federal. Eles estão morando fora do País”, disse.
Na audiência, Cerveró detalhou à Justiça os obstáculos que enfrentou até fechar seu acordo de delação e citou Edson Ribeiro, que atuou em sua defesa até ser preso. O advogado foi detido em 27 de novembro de 2015.
“O sr deve ter acompanhado os acontecimentos. Eu, infelizmente, embora fosse meu advogado há algum tempo, tive um péssimo advogado neste período. Eu fui orientado pelo meu advogado a proceder daquela forma (mentir em depoimento) e, não só isso, porque eu voltei… Eu fui preso no dia 14 de janeiro de 2015. Eu estava regressando da Inglaterra, eu tinha passado o Ano Novo e o Natal, com a família da minha mulher, que tem 3 irmãos na Inglaterra. Eu fui preso no Galeão e trazido direto para cá, para Curitiba. Já ao final, decorridos dois meses, e depois de algumas arguições por parte da Polícia Federal e vendo e analisando o cenário, eu manifestei ao meu advogado, meu ex-advogado, que eu gostaria de fazer uma colaboração, porque essa ação estava… E ele foi radicalmente contra, visceralmente contra, por questão filosófica, de princípio, que acabou me prejudicando. Isso já foi no início de março”, relatou.
O ex-diretor prosseguiu. “Meu filho, que era quem fazia os contatos, me alertou para o fato de que meu ex-advogado, não gosto nem de citar o nome dele, ele estava muito mais preocupado com a situação… Porque eu pedi a ele que entrasse, eu conhecia uma série de… Eu conheço uma série, ao longo desses 11 anos eu desenvolvi contato com vários políticos de expressão. Não vamos citar nomes. Mas o meu advogado ficou empolgado com essa vivência de Brasília, embora ele seja um advogado experiente, e passou a cuidar dos interesses dele em detrimento dos meus. Isso meu filho me avisou. Havia outro problema, o sr tinha bloqueado todos os meus bens financeiros e imobiliários. Eu acho que ele ficou assustado com a possibilidade, a grande possibilidade de não receber nenhum tipo de pagamento. Ele só tinha direito a um seguro da Petrobrás por conta do processo do TCU. Ele passou a se envolver diretamente com isso e escassear as visitas aqui para Curitiba.”
Segundo Cerveró, ele avisou ao então advogado que buscaria um acordo de delação. O ex-diretor declarou que Edson Ribeiro ‘reagiu totalmente contrário’.
“Ele disse que se fosse o caso, já que eu estava nesta situação, isto foi mais ou menos em março, abril, que ele queria conduzir o processo, embora fosse contra. Ele não participaria, mas ia mandar um especialista nessa área para poder negociar com o Ministério Público, tudo isso. Só que ele mandou um advogado,… Eu perdi de 6 a 7 meses. Houve uma primeira reunião com os procuradores, mas pela total inexperiência desse advogado, criou-se um certo descrédito do Ministério com relação a minha real intenção de colaborar”, afirmou.
Nestor Cerveró foi diretor do setor Internacional entre 2003 e 2008. “Dr. Moro, reiterar meu pedido de desculpas ao sr pelo procedimento aqui e meu pedido de desculpas à sociedade brasileira e à Petrobrás em que eu trabalhei por 40 anos e que não deveria ter feito esse tipo de atitude.”
O ex-diretor foi condenado em dois processos na Lava Jato por corrupção e lavagem de dinheiro. Em uma das ações, Sérgio Moro, que conduz as ações da Lava Jato na primeira instância, impôs 12 anos e 3 meses de prisão para Cerveró. Em sua primeira condenação, o ex-diretor foi condenado a 5 anos de prisão pelo crime de lavagem de dinheiro na compra de um apartamento de luxo, de R$ 7,5 milhões, em Ipanema, no Rio.
     

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