Despoluição da Baía de Guanabara

Despoluição da Baía de Guanabara

esbarra no abandono das comunidades

Governo tem projeto para Olimpíadas em andamento, mas precisa investir em locais carentes

Jornal do BrasilPamela Mascarenhas

Rio

O Plano Guanabara Limpa do governo reúne 12 iniciativas para a recuperação ambiental da Baía de Guanabara. O principal é o Programa de Saneamento dos Municípios do Entorno da Baía de Guanabara (Psam). Ele faz parte dos compromissos olímpicos assumidos pelo Governo do Estado com o Comitê Olímpico Internacional (COI), para a realização das Olimpíadas do Rio. Se forem todas concluídas no prazo, cerca de 80% do esgoto despejado na Baía de Guanabara estará recebendo tratamento adequado, promete o governo. Outro projeto é a tentativa de erradicar, até 2014, todos os lixões dos municípios fluminenses.
As obras de despoluição da Baía de Guanabara, da Lagoa Rodrigo de Freitas e das lagoas da Barra da Tijuca, locais onde ocorrerão as provas esportivas nas Olimpíadas, vão consumir R$ 2 bilhões. A Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae) informou recentemente que 70% dos investimentos estão finalizados ou na reta final. Uma passagem por esses locais dão a impressão, no entanto, de que a solução ainda está distante. 

De acordo com Abílio Gomes, doutor em Oceanografia Biológica e professor da Universidade Federal Fluminense, o grande problema da poluição da Baía de Guanabara é a presença do lixo domiciliar, e a solução para esse problema é muito mais complicada do que se faz acreditar. Envolve, ele reforça, uma coleta eficiente em diversas áreas carentes.
"O lixo industrial, a princípio, tem uma maior fiscalização. É um lixo mais pontual, mais localizado. O lixo doméstico é um problema maior. As pessoas em locais carentes jogam lixo próximo aos rios e, quando vem a chuva, ele vai direto para o córrego. Então, o controle é mais complicado. É preciso uma coleta de lixo eficiente, principalmente nas comunidades", reforça Gomes.
Ele afirma ainda que o vazamento de óleo na Baía por parte de embarcações pequenas, que não são devidamente fiscalizadas, é outro problema."A Baía de Guanabara era local de atração turística. Hoje é um cartão-postal que está muito maculado", alerta.
David Zee, professor de Oceanografia da Uerj, confirma que a única solução para combater a poluição da Baía de Guanabara é envolver a população em uma forma eficiente de lidar com o lixo doméstico, oferecendo também instrumentos eficientes, além de promover incentivos a indústrias. São 13 municípios no entorno da Baía que contribuem com lançamento de lixo e esgoto.
"Os municípios do Rio de Janeiro, em geral, carecem de saneamento adequado. Usar espelhos d'agua como latrina é o pior uso que se pode fazer deles, que poderia ser usado para lazer, paisagismo, turismo, contemplação e uma série de outros usos mais nobres. Quando o governo se predispõe a recuperar a baía, esquece da participação da sociedade, ele sozinho não vai conseguir fazer isso. O governo corre sempre atrás, mas tem que correr na frente", declarou.
A praias do Rio de Janeiro, para Zee, continuam em situação precária, mas ele acredita que projetos como o Sena Limpa, que promete despoluir seis praias da cidade até 2014, podem ser eficientes. Vêm sendo executadas obras de recuperação ambiental das praias de São Conrado, Leblon, Ipanema, Leme e Urca, na Zona Sul, e da Bica, na Ilha do Governador.
"Em termos absolutos, acho muito difícil que a Baía fique 80% despoluída até 2016. É uma meta bastante ousada, mas quero crer que seja possível. Acredito, todavia, que o número seja contabilizado em cima daquilo que falta melhorar. Dizer que os mecanismos serão melhorados em 80% não significa dizer que vai melhorar 80%", declarou.
A assessoria do governo do estado do Rio de Janeiro reforça que, ao contrário do saneamento, a coleta de lixo não é de sua competência. No entanto, o governo apoia as iniciativas das prefeituras e, até o final deste ano, 90% do lixo deve ser coletado corretamente. A quantidade de lixo reciclado, porém, ficaria em 10%, no mesmo período.
Como reforça o Ministério do Turismo em seu portal, as Olimpíadas são um megaevento que dão visibilidade e consolidam o país como um dos principais destinos turísticos do mundo. A posição do Brasil no Turismo mundial ainda está bem abaixo dos que são realmente os maiores destinos, como Estados Unidos, que receberam 62 milhões de turistas estrangeiros em 2012. O Brasil tenta há anos chegar aos 9 milhões de turistas, mas não sai da casa dos 5 milhões. Se depender das condições dos principais cartões-postais do Rio, a Olimpíada pode não contribuir para dar o gás esperado à indústria.

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