Carta da Diretora Leila Soares

Carta da Diretora Leila Soares, da escola municipal João Kopke, espancada por um aluno de 15 anos. Divulguem, para que ela não seja mais uma, mas a última.

"Quantas vezes nos indignamos quando sabemos de casos de agressões a colegas, profissionais como nós. Mas não nos indignamos o suficiente por acharmos que ainda está muito distante...
De repente, chega a nós.
O corpo dói. Mas a dor vai passando com gelo, analgésico, remédios...
O coração, este fica tão apertado que parece que sobra espaço em torno dele de tão pequeno. Este espaço é preenchido com dor. Que não tem remédio.
A alma fica endurecida. Parece que sai do nosso corpo...
A pele dói. O sangue circula doendo. Os membros movem-se doendo.
Perdemos o chão. Não temos onde nos agarrar.
Só o carinho dos amigos (conhecidos ou não) é que nos conforta.
Sofremos nós, nossos parentes, nossos amigos, nossos companheiros.
Sofre uma sociedade inteira que vive temerosa porque não temos quem nos proteja.
O agressor sai de cabeça erguida, olhando para trás e rindo.
Não só do agredido, mas de cada um de nós.
Ri daquele que foi empurrado, xingado, ameaçado, chutado, socado.
Ri daquele que o tirou e tentou mostrá-lo o erro.
Ri do erro...
Ri de quem não deveria mais permitir o erro.
Ri da sociedade que fica refém enquanto ele continuará empurrando, xingando, ameaçando, chutando, socando...
Ri do sangue que escorreu, do rosto que machucou, da alma que feriu.
Apenas sai, impune, e olha para trás, e ri.
Para mais adiante deixar refém mais muitos.
Quem somos nós, Educadores?
Pois eu sei quem somos nós:
Somos aqueles de quem ri o que sai impune, olhando para trás e rindo.
Será que serei só mais uma?
Ou a última?"

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