A rebelião no presídio Bangu 1, em 11 de setembro de 2002


Dez anos após a rebelião em Bangu 1, nenhum acusado da chacina foi condenado

Paulo Carvalho
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A rebelião no presídio Bangu 1, em 11 de setembro de 2002, é até hoje a mais emblemática revolta ocorrida no sistema penitenciário do estado do Rio. Dez anos depois, porém, uma das poucas certezas do caso é a de que quatro detentos foram assassinados no motim. Nenhum dos cinco traficantes que são réus no processo sobre os homicídios, no 1º Tribunal do Júri, foram a julgamento. Dos 24 bandidos indiciados à época, 19 conseguiram se livrar das acusações.
As contradições e negativas encontradas nos depoimentos prestados por dezenas de agentes penitenciários e traficantes podem estar atrapalhando o andamento do processo de 14 volumes. As últimas movimentações estão contidas nos últimos dois volumes, guardados no cartório da 1ª Vara Criminal. Os outros, talvez esquecidos em armários ou gavetas, não foram localizados.
Os cinco pronunciados — Cláudio José de Souza Fontarigo, o Claudinho da Mineira; Carlos Braz Victor da Silva, o Fiote; Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP; Marcos Antonio Pereira Firmino da Silva, o My Thor; e Márcio Silva de Macedo, o Gigante — foram apontados pelos inimigos e pelas vítimas que foram mantidas reféns como participantes diretos da chacina.
Os demais agressores estavam com os rostos cobertos e não puderam ser reconhecidos. Dois acusados tiveram seus processos separados: Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, e Marcos Vinicius Tavares Gavião, agente penitenciário que era acusado de repassar armas aos traficantes. O primeiro ainda aguarda julgamento. Gavião foi absolvido.
A galeria D de Bangu 1, destruída após o motim: acerto de contas entre facções motivou os homicídios
A galeria D de Bangu 1, destruída após o motim: acerto de contas entre facções motivou os homicídios Foto: Fábio Gusmão / Extra
Falhas na segurança
A rebelião mostrou a vulnerabilidade de um presídio que deveria ser de segurança máxima. Apesar do controle na entrada e saída de agentes e visitantes, os depoimentos prestados à Delegacia de Repressão às Ações Criminosas e Organizadas, durante as investigações, mostraram as falhas em Bangu 1.
Um dos agentes contou, por exemplo, que as travas elétricas das portas das celas e portas de acesso às galerias não funcionavam. Das oito câmeras instaladas, três estavam quebradas. Ricardo Couto, que era diretor de Bangu 1 na ocasião da rebelião, afirmou em depoimento que o sistema eletrônico não funcionava adequadamente, e uma arma chegou a passar pelo detector de metais.
O próprio acerto de contas entre facções que levou à chacina poderia ter tido contornos diferentes. Segundo os depoimentos à Justiça, houve uma disputa financeira para que as chaves das galerias e armas fossem entregues ao grupo de Beira-Mar. Ernaldo Pinto de Medeiros, o Uê, um dos mortos no massacre, teria oferecido R$ 200 mil para receber o material. Mas Fernandinho teria dobrado a oferta, dando R$ 400 mil. Em seus depoimentos, Fiote e Claudinho da Mineira alegaram que mataram para não morrer.
O corpo carbonizado de Uê: traficante foi um dos quatro mortos na rebelião
O corpo carbonizado de Uê: traficante foi um dos quatro mortos na rebelião Foto: Divulgação
Mortos
Foram mortos na rebelião Ernaldo Pinto de Medeiros, o Uê — que teve o corpo carbonizado — Wanderley Soares, o Orelha, Carlos Alberto da Costa, o Robertinho do Adeus, e Elpídio Rodrigues Sabino, o Pidi.
Mudanças
Atualmente, Bangu 1 deixou de ser uma unidade para cumprimento de pena e acautelamento. É destinada agora a presos que cumprem Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) e outros tipo de sanções para faltas graves — nos dois casos, os detentos são transferidos por um período determinado para lá. Hoje, não há separação de presos por facções nas galerias.


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